Novos pavilhões da Sonae fazem aumentar o caos na Nacional 3
Empresa proíbe trabalhadores temporários de estacionarem no interior das instalações. Grupo obteve declaração de interesse público municipal para a obra em 2019 e agora contribui para o estado de sítio na principal via da concelho de Azambuja
Estacionamento indevido acumula-se ao longo da escapatória da Nacional 3
O estacionamento que é proibido de automóveis na escapatória, nas bermas da Nacional 3 e no acesso à rotunda junto à Sonae é uma realidade que tem vindo piorar, beneficiando ainda da benevolência das autoridades. Este quadro embora seja visível um pouco por toda a Nacional 3 entre o Carregado e Azambuja, tem vindo a tomar contornos preocupantes sobretudo nas imediações da Sonae. A inauguração em 2021 de uma nova unidade de frio a que se juntou mais recentemente a aquisição do edifício da Aquila Capital por aquele grupo levou à admissão de mais trabalhadores e por consequência aumentaram os problemas de trânsito.
Mais recentemente a empresa divulgou uma nota interna a proibir o estacionamento de veículos ligeiros aos trabalhadores temporários no interior das instalações, mas também os recentemente contratados estão a ser inseridos no mesmo pacote. Sem soluções de estacionamento interno, aqueles trabalhadores deixam os automóveis todo o dia nas bermas da estrada fazendo aumentar por conseguinte os perigos na circulação rodoviária. Numa das últimas reuniões de Câmara de Azambuja, o vereador do PSD, Rui Corça, lembrou que a necessidade de mais estacionamento para os trabalhadores, no interior do complexo, deveria ter sido acautelada pela empresa quando pediu à Câmara a suspensão do PDM em 2019 com vista ao alargamento das suas instalações.
Veículos estacionados na rotunda junto à Sonae são uma constante
Segundo foi apurado, a empresa quer que seja disponibilizado um parque de estacionamento da Refer contíguo ao Espadanal tendo em vista aquele fim. Esse mesmo parque já está a ser utilizado embora não seja pertença da empresa. A Câmara de Azambuja colocou na zona de acesso ao viaduto para o Espadanal sinais de proibição de estacionamento, mas sem particular efeito “pois toda aquela zona ali é usada abusivamente”, refere à nossa reportagem Rui Corça, vereador do PSD, que levantou a questão em reunião de Câmara.
Rui Corça lembra que aquando do pedido de suspensão do PDM, a empresa “garantiu que tinha espaço suficiente para assegurar estacionamento no seu interior de acordo com as regras”, isto depois de ter ameaçado o município que sairia de Azambuja se a Câmara não aprovasse a suspensão do PDM. Agora e passados estes anos “percebemos que os carros não cabem lá dentro”, conclui Corça. A Nacional 3 que anda de braço dado com a palavra insegurança torna-se ainda mais perigosa – “As bermas estão ocupadas por veículos, as centenas de trabalhadores que caminham ao longo da beira da estrada correm sérios riscos, porque ao desviarem-se dos carros praticamente entram na estrada para contornarem os obstáculos em causa. Já para não falar da falta de iluminação da estrada”.
Silvino Lúcio, presidente da Câmara, refere que já perguntou à Sonae sobre a legitimidade que tem para ocupar o parque de estacionamento da Refer. Contudo e questionado sobre como vai atuar face aos problemas que este assunto está a causar não adianta outras explicações.
Empresa aluga autocarros, mas apenas transporta trabalhadores mais antigos. Veículos chegam a Azambuja apenas com 10 passageiros
Ricardo Mendes do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) adianta que a diretiva da empresa está a ser encarada com grande preocupação. De acordo com o dirigente sindical ao nosso jornal, a empresa disponibiliza autocarros para transporte dos funcionários, mas apenas dos contratados há mais tempo.
Os provenientes das empresas de trabalho temporário ou os que firmaram contrato mais recentemente com as empresas do grupo Sonae não têm direito a este transporte. “Chegamos ao cúmulo de ter autocarros com 50 lugares que chegam a Azambuja apenas com 10 pessoas lá dentro, porque a empresa diz que paga o autocarro, não paga pelo número de lugares ocupados, e como tal todos os outros trabalhadores não têm direito.
Muitas desses autocarros vêm de zonas mais distantes dos distritos de Santarém ou de Lisboa que podiam perfeitamente apanhar outros trabalhadores pelo caminho. Isto prejudica gravemente as pessoas, porque muitas delas não têm meios de transporte público que se adequem aos horários, gastam 200 ou 300 euros de um ordenado mínimo só em combustível porque a empresa teima nas suas regras. Por outro lado temos toda a questão ambiental e de estacionamento nas bermas, com automóveis a criar filas de trânsito intermináveis na estrada de Vila Nova da Rainha”. Ricardo Mendes confirma que este quadro se agudizou desde que a empresa expandiu as suas instalações com mais duas naves de grandes dimensões. No interior do complexo da Sonae, Ricardo Mendes confirma que é o caos com todos “os possíveis buraquinhos a serem ocupados por veículos particulares”. O dirigente sindical é taxativo – “A autarquia de Azambuja deveria de uma vez por todas dizer à Sonae que isto é completamente incomportável dada a afluência gigantesca de automóveis a determinadas horas com poluição e filas de trânsito”.
Outro facto que está a gerar preocupação prende-se com o atravessamento da linha de caminho de ferro pelos trabalhadores que chegam ao apeadeiro de Vila Nova da Rainha com destino a um dos novos pavilhões da Sonae “com todos os perigos que isso acarreta”, pois acabam por fazer “uma espécie de corta-mato para evitarem dar uma volta maior por Vila Nova da Rainha”.
Contactada a Sonae sobre este assunto mas até à data não obtivemos resposta.