Carris Metropolitana contrata mais 23 motoristas de Cabo Verde
Depois do primeiro grupo de 50 motoristas, vão chegar mais 23 cabo-verdianos para os autocarros da Alsa Todi, empresa concessionária da Carris Metropolitana, nos concelhos de Setúbal, Moita, Montijo, Alcochete e Palmela.
É um dos 237 autocarros da frota da Alsa Todi que garante o transporte público na península de Setúbal. Em vez do número da carreira, o veículo apresenta-se como "Fora de Serviço" e, por isso, não tem passageiros. Vazio, está a ser usado para a formação de motoristas, que aprendem, assim, novos percursos e os mecanismos da viatura. O coordenador da formação da Alsa Todi, na Moita, Carlos Pacheco, ajudou a formar oito motoristas que vieram da ilha cabo-verdiana de São Vicente para colmatar a falta de motoristas da empresa.
Motorista há 20 anos na ilha de São Vicente, José Fortes deixou quatro filhos em Cabo Verde, em busca de uma "oportunidade única". Com ele, veio também Paulo Silva, que conduz autocarros há 15 anos. A decisão de emigrar foi difícil, reconhece Paulo, que veio para Portugal "tentar uma vida diferente", a pensar na família, porque "algumas oportunidades aparecem uma só vez na vida".
A adaptação foi "mais difícil, por uma questão geográfica", realça o formador Carlos Pacheco, lembrando que em São Vicente, não existem semáforos. Paulo confessa que "por duas ou mais vezes, passei no vermelho". Durante a formação, também se perdeu duas vezes na auto-estrada e foi parar à Costa da Caparica.
José Fortes salienta que a "forma de conduzir e trabalhar (em Portugal) é completamente diferente. As exigências são maiores. O trânsito não tem comparação". Os motoristas aprendem a entrar e sair da auto-estrada, a circular nas rotundas e respeitar os semáforos, mas José admite que já errou uma saída na auto-estrada, apesar do acompanhamento dos formadores. "Todos são acompanhados" até sentirem que estão preparados para trabalharem sozinhos, garante Carlos Pacheco, que ainda apoiou a integração dos cabo-verdianos na Moita. "Mostrei-lhes onde é o hipermercado, o centro da Moita. Não há falta de apoio", acrescenta o formador a quem os motoristas imigrantes chamam carinhosamente de "tio Pacheco".
Em Setúbal, estão 42 motoristas cabo-verdianos, enquanto na Moita, são oito. Estão alojados no Hostel Moita, um dormitório onde dividem um espaço com oito camas. O proprietário, Luís Dias, destaca as condições do alojamento, onde os motoristas podem confeccionar as refeições. Na cozinha, destaca-se uma "panela grande para a cachupa", indica Luís, enquanto descreve o apoio extra que proporciona aos hóspedes: conselhos nas relações com a banca, o fisco e o Serviço Nacional de Saúde. O gerente do Hostel Moita assume-se como "um irmão mais velho ou pai mais novo" dos motoristas de Cabo Verde.
Contudo, as noites no albergue são o período mais difícil para estes homens. É o momento em que "bate a saudade", refere Paulo Silva. Com cinco filhos em São Vicente, César Silva assume que foi um "sacrifício deixar a família. Chega um momento em que se sente um vazio enorme". O motorista de 45 anos fala com emoção da "criança mais pequena", o filho mais novo que tem apenas nove meses, e vive um único objectivo: poupar todos os meses para "fazer vir as famílias".
Com a vinda dos profissionais de Cabo Verde, a Alsa Todi ultrapassou as falhas iniciais no serviço de transportes. Carlos Pacheco admite que "passámos tempos bastante difíceis no início", quando não havia motoristas para garantir o transporte de todos os passageiros. Agora, "estamos no bom caminho para o sucesso". A empresa emprega cerca de 400 motoristas, mas Carlos recorda que "nós fomos as cobaias". A Alsa Todi, empresa concessionária da Carris Metropolitana, começou a operar em Junho de 2022, nos concelhos de Setúbal, Moita, Montijo, Alcochete e Palmela.
Depois dos primeiros 50 motoristas, em breve vão chegar mais 23. No total, 73 condutores cabo-verdianos, para que a operação da Carris Metropolitana corra sobre rodas.
Uma lição que pode servir de exemplo às outras empresas concessionárias, que entraram em funcionamento na margem norte do Tejo no primeiro dia de 2023. Carlos Pacheco acredita que já "tiveram tempo de se prepararem".