Linha da Beira Alta quer tirar contentores dos camiões e pô-los nos comboios
Transporte de mercadorias será o mais beneficiado a partir de janeiro de 2023, quando reabrir o troço ferroviário entre Pampilhosa e Guarda. Poderão circular comboios com 750 metros de comprimento.
Tirar os contentores dos camiões e colocá-los nos comboios é o principal objetivo da modernização da linha da Beira Alta. O transporte ferroviário de mercadorias sobre carris foi o mote para o debate desta quarta-feira, em Mangualde, organizado pela Infraestruturas de Portugal (IP) sobre as obras que levaram ao encerramento, durante nove meses, da ligação entre Pampilhosa e Guarda.
A ligação ferroviária será reaberta em janeiro de 2023 nos dias úteis, mas apenas voltará a funcionar todos os dias a partir de fevereiro de 2024.
A modernização da Beira Alta vai favorecer, sobretudo, a área logística. Diariamente, poderão circular até 25 comboios com 750 metros de comprimento (em vez de 400) e a velocidades mais constantes. Transportar carga pelo caminho-de-ferro será mais barato em 30% do que antes das obras.
Comboio em Barca d’Alva depende de eletrificação do Douro
Os passageiros irão sentir mais conforto, mas a redução do tempo de viagem – entre 25 e 30 minutos – deve-se sobretudo ao fim das restrições de velocidade que existiam antes da modernização da via e à supressão de passagens de nível. Ou seja, é apenas uma recuperação de tempo face ao cenário que vigorava antes do início das obras.
No investimento total de 550 milhões de euros (com mais de dois terços de verba comunitária), está ainda prevista a construção da Concordância da Mealhada. Com a ligação direta da Linha do Norte à Linha da Beira Alta, um comboio do Porto até Guarda, por exemplo, deixará de precisar de inverter a marcha na estação da Pampilhosa.
Leixões fica a ganhar
O Porto de Leixões será um dos maiores beneficiários com a construção da nova concordância, podendo realizar comboios diretos até à fronteira. “Vamos ficar mais próximos de Madrid e alargar a nossa zona de influência”, salientou neste debate o presidente da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), Nuno Araújo.
A infraestrutura portuária está a duplicar a capacidade de carga sem aumentar o número de camiões (1.500) que chegam todos os dias a Leixões. “Temos mesmo de avançar com a ferrovia para recebermos mais carga, ao mesmo tempo que reduzimos a nossa pegada ambiental”, acrescentou.
Vamos ficar mais próximos de Madrid e alargar a nossa zona de influência.
A obra também vai facilitar o envio das mercadorias para o futuro terminal da Guarda, porto seco que também será gerido pela APDL.
A mudança das cargas do camião para o autocarro também foi assinalada pelo líder da Associação dos Transitários de Portugal. “A Linha da Beira Alta pode contribuir para a transição da rodovia para a ferrovia e funcionar como ligação a outros corredores”, destacou António Nabo Martins.
Linha fechada
Depois de mais de 30 anos sem intervenções de monta, a Linha da Beira Alta está a ser finalmente modernizada. O estado a que a infraestrutura chegou obrigou ao encerramento da linha por nove meses, alega a IP.
“Sem a linha encerrada, o prazo mínimo era de três anos e meio [de obras], numa intervenção seria de elevado risco. O custo acrescido seria de 250 milhões de euros”, estimou o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes. O responsável alegou ainda que, com a demora acrescida das obras, “haveria risco de perder financiamento”.
Contudo, as obras na Beira Alta já deveriam ter ficado concluídas no primeiro trimestre de 2020, isto é, há mais de dois anos. Assim previa o calendário do programa de investimentos Ferrovia 2020, apresentado em fevereiro de 2016.