Como é ser uma mulher camionista hoje em Portugal?
Apesar da percentagem de mulheres camionistas ainda ser bastante reduzida, esta é uma profissão em que cada vez mais mulheres apostam na procura de melhor qualidade de vida. No contexto do Dia Internacional da Mulher, a Eurowag conversou com duas portuguesas que arriscaram por este percurso.
A Eurowag, empresa de soluções de transporte rodoviário comercial, assinala o Dia Internacional da Mulher com o testemunho de duas camionistas profissionais portuguesas – Diana Macedo e Daniela Oliveira –, que contam em entrevista como é ser mulher numa área que ao longo do tempo tem sido dominada pelo género masculino. Com a missão de tornar as operações de milhões de camiões que atravessam a Europa mais limpas, justas e eficientes, a Eurowag defende também a inclusão no transporte rodoviário comercial, reconhecendo as contribuições das mulheres camionistas que quebram barreiras e inspiram mudanças positivas no setor.
Um novo começo
Ser camionista não foi a primeira opção para estas duas mulheres; foi a opção que surgiu depois de encontrarem obstáculos nas suas anteriores carreiras. Diana Macedo é licenciada em Línguas Modernas (Inglês e Espanhol). Após ter sido dispensada em 2019 e ter percebido que não iria conseguir arranjar trabalho na área decidiu seguir as pegadas do pai e tirar a carta de pesados. Já Daniela Oliveira foi cabeleireira durante 7 anos e decidiu mudar de vida com o intuito de conseguir viver de forma mais confortável, como via os colegas desta área a conseguir.
O que as atraiu para a profissão de camionista?
Cada vez mais mulheres são atraídas para a profissão de camionista. Diana e Daniela apontam alguns fatores comuns que justificam o facto de esta ser uma área atrativa e gratificante. O principal ponto que ambas referem é a questão salarial e o aumento da qualidade de vida. Em segundo, o facto de terem bastante autonomia, tanto por poderem trabalhar sozinhas (“não temos ninguém a chatear-nos a cabeça todos os dias,” como comenta Diana), como pela liberdade na gestão de horários. Apesar de terem de cumprir um horário fixo, o tempo de repouso e a conduzir cabe à sua própria gestão pessoal.
Outro fator apontado por Diana remete para a saúde mental, uma vez que apesar de terem de lidar com vários fatores de stress, conseguem não o levar para casa. Por último, um ponto positivo gratificante é também o que esta profissão permite experienciar. Seja o contacto com diversas culturas, as paisagens que percorrem ao longo da rota e/ou até mesmo a questão de terem acesso a empresas que todos os consumidores conhecem, mas que não têm a oportunidade de verem os bastidores.
Combater estereótipos
Numa área liderada por homens, ser uma mulher camionista apresenta alguns desafios. Uma das questões mais complexas é a questão da segurança. Como ser motorista de camiões ainda é associado a ser homem, as desigualdades, inclusive ao nível das infraestruturas ao dispor destas profissionais, continuam muito presentes.
Daniela conta que em 80% das estações de serviço que visita não existe chuveiro de mulheres. Isto obriga a que as mulheres camionistas tenham de tomar banho em unidades sanitárias masculinas. Já no caso dos períodos noturnos afetos a esta atividade, por exemplo, a maior parte dos locais não são iluminados e não dispõem de vigilância, “e isto são tudo fatores para gerar insegurança,” comenta Diana.
Outra questão é a discriminação. Daniela conta que a discriminação começa logo nas entrevistas: “o primeiro sítio onde fui pedir trabalho disseram logo que ‘nós não damos trabalho a mulheres’, porque o trabalho de homens é mais pesado e as mulheres não conseguem fazer o mesmo”. Além disso, notam a diferença de tratamento por parte de alguns colegas, que por vezes comentam sobre a sua atividade “com bocas e risinhos”, e desfazem trabalho que já está feito, num sentido de afirmação de que fazem melhor. “Já levei a resposta de que eu estava bem era em casa a coser meias, que isto não é trabalho de mulheres, por parte de colegas e dos donos das empresas,” acrescenta Daniela.
Ser mulher camionista ao volante
Diana e Daniela partilham a mesma perspetiva: para ser bem-sucedida e respeitada numa área dominada por homens é necessário interpretar um papel de ‘durona’, mas sem ter de perder o carácter de feminilidade que valorizam. Isto porque, como comenta Diana, ser mulher nesta profissão tem as suas vantagens, como o ter em atenção a detalhes, conectar-se com os clientes só com um sorriso, e dedicar tempo em situações que muitas das vezes os colegas acham insignificantes, como o caso das medidas de segurança, mas que reduzem o risco de acidentes na estrada.
De formas diferentes, ambas procuram diariamente fortalecer o papel da mulher e as suas personalidades através de pequenos gestos: Diana com um lacinho ou um scrunchie no cabelo, ou Daniela através da maquilhagem ou um salto-alto. Sempre que podem também se vestem o mais arranjado possível, nem que isso signifique levar uma muda de roupa na bagagem de mão.
As histórias de Diana e Daniela são um exemplo da presença crescente de mulheres em profissões tradicionalmente dominadas por homens. Através das suas experiências, elas abrem caminho para um futuro mais inclusivo, encorajando “a quebrar o silêncio da mulher motorista,” como comenta Daniela. Já Diana, conclui que este “É o momento de mostrarmos que somos capazes, que vamos mais longe, e que nada, nem ninguém, nos vai parar”.